terça-feira, 16 de setembro de 2008

Escrever e Trovar

Sentado, analisando frestas com luzes que adentram o ambiente e causam a sensação de vida lá fora.
Um rosto abatido, o sinal em minha perna de tanto ficar cruzada sobre o joelho esquerdo causa uma sensação de dormência.
O barulho de água caindo, dentro da cabeça ou fora dela, uma constante viagem ao interior do oceano cerebral.
Alguns rabiscos embaixo do abajur, feitos nas noites de insônia causadas por excesso de ansiedade.

Logo ali, um par de chinelos, com o pé direito virado de ponta cabeça, isso quer dizer morte na família?!
Um velho cinzeiro com cinzas de dois dias, e meio cigarro apagado por um câncer na traquéia. O velho não resistiu.
O som do piano, batendo em uma só nota, remetendo lembranças de ondas passadas, possuídas por barulhos ilícitos.

O trânsito parado, o cheiro de churrasco, e alguns gritos de felicidade. Hoje é domingo.
O ventilador roda em movimento uniforme, nem frio, nem calor. Uniformemente agradável.
A cama mal arrumada, um par de meias por baixo dos lençóis, o travesseiro encaixado no canto junto à parede.
Insônia desagradável, compatível à dor das agulhadas do tatuador, que trabalha logo ao lado.

A porta entreaberta, esperando algum movimento, alguma pessoa. Mas o que entra é apenas poeira, outro dia para contratar uma diarista.
Três garrafas de cerveja, já quase vazias. Um paladar aguçado e um desejo no ar. Sem ter como me entregar, me entrego a escrever e trovar.

[Rafael Xereta]

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