sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Registro de respeito

Eu carrego um documento que se chama respeito
Trago no bolso há muito tempo e não posso te vender
Sou quase um cidadão, mas não tenho registro
Pois minha mãe nunca me conheceu

De noite não dói, minha cabeça não destrói
Quando eu me deito no travesseiro
A consciência não pesa

Minha casa é logo ali, é só andar mais um pouquinho
Te espero de papelão aberto, eu só não tenho água pra oferecer
Segure a minha mão, e tenha certeza
Sou do povão, eu sou a natureza

De noite não dói, minha cabeça não destrói
Quando eu me deito no travesseiro
A consciência não pesa

Não faço mal à ninguém
Sou a natureza, sou do bem

[Rafael Xereta]

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Monólogo de um diálogo

Tento não te imaginar tão linda, com aquele lindo sorriso estampado no rosto
Caminhando em minha direção, para abraçar-me dizendo que precisa muito de mim
Pois quando eu fui embora, acabei me esquecendo de te levar em minha bagagem
Por isso digo outra vez, que ainda me lembro bem de você, após tantos anos

Hoje a noite, pretendia te ligar, mas sei que não vai nem me atender
Muito menos me entender, pois estou vivendo bem longe de sua casa
Só queria que você me dissesse que se lembra muito bem do dia
Do dia em que estávamos bem aí, contando besteiras sobre a vida

Eu sei que parece estranho, as coisas realmente estão meio sem sentido
Mas meu coração ou minha cabeça, não sei bem qual, me diz para fazer assim
Estou matando tudo que possa ter nos afastado, e juntando os possíveis benefícios
Tenho até hoje aquela velha bugiganga que era de seu avô, amuleto de sorte

Talvez alguma hora entenda, pois hoje consigo te olhar com outros olhos
Sei que não sou sua primeira escolha, nem opinião
Mas também sei muito bem do que realmente gosta, e você gosta que eu saiba
Bem, vou dormir, não decorei muito bem o diálogo, mas acho que me saí bem

E se...
Esquece, mas precisando...

[Rafael Xereta]

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Formigueiro

De acordo com as batidas do coração, os dias passam em vão. Mas as borboletas estão radiantes lá fora, isso nos mostra vida, quem sabe. O que estou fazendo deitado aqui na grama? A sombra está tão fresca e o vento que passa por mim me dá uma sensação imensa de liberdade.
Quem dera eu pudesse voar com estes pássaros que sobrevoam meu corpo, desenhando linhas imaginárias no céu. Fechar os olhos, raramente, me faz enxergar muito mais do que o sangue pode sentir, as veias começam a pulsar, meu cérebro a descansar, e estou em paz.
Mas que paz é essa? Paz com a vida? Paz comigo mesmo?
Não sei.
Uma paz contagiante, que veio do céu diretamente para os pássaros, e eles me passaram esta sensação maravilhosa e que pretendo mostar para o mundo todo. Alguém está me chamando ali no fundo...

( ... )

A formiga me disse que o possível às vezes é impossível para seres tão pequenos e frágeis, que apenas querem desfrutar de uma vida comunitária, onde todos vivem bem, e não há desigualdades como no mundo dos humanos.
Minha alma se manifesta e então ajudo a formiga a carregar aquela folha tão pequena, mas para ela, tão imensa. Feito todo o trabalho, elas me agradecem e voltam para o formigueiro felizes da vida.

E por que nós não? Temos nossa casa, mesmo que seja de papelão ou lona, temos um lar, algo para prestigiar e nos valer a vida. Faço valer os momentos mais bizarros do cotidiano. Faça valer também, pare para pensar no motivo das coisas. E principalmente, por qual razão fazemos tão mal um para os outros.

[Rafael Xereta]

O socorro

E então o sol brilhou
No final daquela estrada
Parecia tão distante
Mas ela ficou lá, parada

Eu tento me lembrar
Do dia em que eu te disse
Para nunca ficar
Vagando na mesmisse

Nas noites de insônia
Sua janela sempre acesa
Eu sempre a observar
Se alguma vez fosse me olhar

Aqui sentado e bebendo
Não sinto mais nada
Um imenso vazio no peito
Me faz varar a madrugada

Esqueço os amigos
Esqueço de mim
As vezes chego a pensar
Se estou perto do fim

As horas não passam mais
O tempo parou e estou tenso
Outro gole, e o ponteiro não muda
Deixa estar que alguém me ajuda

O socorro às vezes vem de cima
Ou de baixo
Se você é do bem ou do mal
Só vai descobrir quando o socorro chegar

[Rafael Xereta]

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

No mundo das flores

Onde você estava, que não me respondia
Onde você estava, quando eles fugiram de mim

Acho que você estava
em cima do sol
Olhando para os mortos do céu
e me dizendo que outro dia
Vai voltar para me buscar

O sino voltou a tocar quando eu já dormia
Meus sentidos não me respondiam
Aquela voz sombria que de repente surgia
Me dizia magícas e maravilhas

Para aprender a entrar
no ringue da solidão

Há muito tempo você não volta
Há muito tempo quero você

Outra vez esqueci de contar os pingos d'água
Pois hoje cedo me peguei pensando
Em como escapar dessa noite
Onde tudo se arruinará

[Rafael Xereta]

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Retorno do sol

A estrada me chama, mais uma vez
Com o vento contra o rosto
Sigo firme até onde o sol nasce
Tentar outra vez, uma vida talvez

Parti algo aqui dentro de mim
Que me dizia para ficar, mas
Tive que ser forte para conseguir
Outra vez, quero ver qual o fim

Hey, me dê uma carona no seu coração
Hey, me leve para ouvir a nova canção

Pessoas passando ao meu lado
Começam a me acenar de forma estranha
Finjo que estou só e continuo
O caminho é longo e sombrio

Mas, eu deixei algo para trás
Mas, acho que tenho que buscar
Não posso lamentar
Vou ter que voltar

Quando o sol retornar e brilhar

[Rafael Xereta]

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Mais um ano de vida: Sobrevivência

Mais um ano se passando para minha pessoa, mas afinal o que pesa mais?
A quantidade de números de anos na vida, a carga de experiência que carrega nos ombros,
as desilusões, as ilusões, ou os sonhos que não se realizaram durante este tempo?

Ninguém se importa com a idade, realmente, quem se importa é pra quem vota
É preciso ter mais de 16 para votar, aí sim, querem saber quantos anos você tem.
Mas odeio questionar política.

E por que é falta de educação perguntar a idade de uma mulher?
Se eu sou um solteirão de 50, e estou a flertar, quer dizer então que não posso saber a idade de uma dama? Injusto, pois a minha está estampada na cor dos cabelos.

A idade é simples, é deduzida pela sua cultura, sua experiência, suas respostas sábias e perguntas intrigantes.
Estou aqui ficando mais velho, e daí? O que muda é quando alguém perguntar a idade, eu vou aumentar mais um algarismo para lhe dizer. Na vida alheia, isso não faz tanta diferença. Mas na pessoal, acredito que faça um pouco, mas mínima.

Meu aniversário representa o suficiente para refletir que enquanto milhares de pessoas morrem por ano, eu sobrevivi e consegui mais um em minha vida.
E pretendo mais... até meu objetivo alcançar e em meu leito descansar.

[Rafael Xereta]

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Guerra invisível

Eu vejo que o mundo vai passando
E estou aqui criando uma guerra invisível
Crianças em branco e preto choram enquanto estou com medo
Mas ninguém vê a base do outro lado gritando meu nome

De passo em passo, avanço até o próximo ponto
Outra bomba caiu perto de mim
E mais um companheiro foi pro saco
Deitado, tento livrar os males que posso sofrer

Carrego no peito a cicatriz da virtude
Contra o medo, tenho amigos e fuzileiros
Você não pode ver, mas estão logo atrás de você
Prontos para atirar a qualquer movimento em falso

Com o rosto ensaguentado, e uma corda nas mãos
Chego em base, chego livre, chego salvo
Um tiro estoura no ar, é hora de ir
E outra vez... partimos, para salvar crianças

[Rafael Xereta]

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Vivendo

Conseguiu chegar onde pensou todos estes anos
Montado em suas verdades e dúvidas sobre o mundo
Esquecendo da poesia e vivendo urbanamente controlado
Um pouco viciado nas redundâncias que a vida nos dá

O castelo tão desejado foi destruído
Quando a escolha não foi a certa, o caminho errado
Te deram a direção, e escolheu o atalho
Agora preso, não se encontra em seu próprio corpo

Mas acorda todos os dias, pensando em como escapar
Evitar que o pior aconteça, e renovar seu passado
Com um novo futuro, que às vezes nem mesmo existe
Mas a vontade de crescer é muito mais forte

E o sonho existe, vivemos este dia
Sonhar acordado, para acordar um dia

[Rafael Xereta]