domingo, 30 de novembro de 2008

Carta ao Papai Noel

Querido Papai Noel, meu nome é Isabela. Como todas as crianças que te escrevem, eu também fui uma boa menina este ano, e queria ganhar muitos presentes. Me comportei muito bem, não desobedeci meus pais, e tirei boas notas na escola. Por isso, e outros motivos estou te escrevendo esta cartinha, queria ganhar um ótimo presente.
Pensei em vários tipos de coisas para ganhar, tem uma boneca que eu vi em uma loja, ela é maior do que eu, queria tanto ela, mas também tem umas roupinhas que minha mãe me mostrou, e um monte de sapatinhos coloridos.
Mas de um tempo pra cá, as coisas mudaram, e surgiu um pequeno problema. Meus pais de repente começaram a agir de forma diferente comigo. E me disseram que eu ia ter que fazer um tal tratamento. Foi aí, que pouco tempo depois meus cabelos começaram a cair, e eu fiquei preocupada. Perguntei para minha mamãe o que estava acontecendo comigo, ela me disse que eu tinha uma tal doença, acho que o nome é leucemia. Depois disso Papai Noel, fiquei com muito medo de morrer. Por isso queria pedir ao senhor só uma coisa, um tal doador de medula óssea. Queria muito que você me ajudasse, pois sou muito novinha e não queria perder minha família. Ficaria muito feliz se me ajudasse, estou com muito medo dessa doença, ouvi meus pais conversando e parece que é muito difícil conseguir o tal doador.
Se me ajudar, juro que ano que vem te peço a boneca que eu tanto quero.
Obrigada pela atenção, beijos e espero resposta, não tenho muito tempo.

[Rafael Xereta]

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Aldeia

Tambores
Rumores
e gritos
É hora
agora
do agito

Bate o pé
Oshalá
Bate a mão
No chão

Esse corpo
que nasce
Com força
agora é

Guerreiro
da aldeia
Um novo
Pagé

Abençoa

Sua mãe
Mulher

Crescer
Caçar
Filhos
Prosperar

Chão batido
Terra quente
Pés descalços
Solo ardente

[Rafael Xereta]

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Diário de um caminhoneiro

Sou caminhoneiro, estou na estrada há mais de 20 anos.
Não pretendo fazer outra coisa em minha vida.
Nunca pensei em ser engenheiro ou doutor.
Gosto do que faço, e sei que faço bem.
Já passei por muita coisa, e muita coisa já passou por mim.
Sobrevivi a terríveis acidentes, já salvei vidas de acidentes.
A vida pelas estradas não é fácil.
É preciso punhos de ferro ao volante.
A saudade, me motiva para conseguir voltar.
Não tenho pressa, sempre firme e constante.
Às vezes saio sem saber se vou voltar, só faço minha oração.
Nesse ramo existe muita corrupção, tem gente por aí com trabalho ilegal.
Tem gente carregando madeira, carvão, e até animal.
E pra falar verdade, já transportei de tudo em minha carroceria.
Tenho experiência suficiente pra contar que um amor resiste às estradas.
Já vi amigo meu perder mãe, família e namorada.
Não sou muito conhecido, ninguém me vê na rodovia. Só dou sinal que pode passar.
É legal quando alguém dá aquela buzinada, parece até que lembram que tem alguém dirigindo aquele caminhão pesado.
Frases no paralama já tive várias, ultimamente não carrego nada.
O que eu sei é que vivo pra levar e trazer, não sei quando vou parar nem morrer.
Sigo na estrada, sigo adiante, até o dia em que Deus achar que é o bastante.

[Rafael Xereta]

As borboletas voltaram

As borboletas voltaram, e dessa vez querem me levar
Para voar sem ritmo, quando a primavera chegar
Misturando o som, misturando o dom e a cor do nosso batom
Em meio a selva selvagem de rios por entre a paisagem

Me ensinaram a entender o bater de suas asas
Criando no ar as cores da natureza rebelde
Fascinação pelo planeta em que vivem mediantes
Às conspirações causadas pelo famoso homem

O amanhecer, a chegada do sol, o brilho do rei
A réuva molhada, latidos dos cães e mais borboletas
Voltaram para me ver, voltaram trazendo a luz
Incrível som silencioso de seus rebolados flutuantes

Flores no jardim a esperar o seu pouso tocante
No ventre de suas pétalas doces e serenas
Repousar e flutuar no incrível céu azul
Brizante como o cheiro puro de terra molhada

[Rafael Xereta]

Quem surfa em tsunami sabe a onda que pega

Queria saber quem está aí
Aquele que surfa nos sonhos alheios
Envolvido em grandes ilusões
Passando por um tsunami de magias
Talvez ele sabe o risco que corre
Só não percebe a nobreza dos fracos
Que só em uma onda faz canções
E que nessa vida sofre
Por quem pega suas confissões

[Rafael Xereta]

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Da guarda

- É aqui que vamos entrar?
- Sim, pode seguir.
- Certeza que consegue fazer isso?
- Confie em mim, é logo ali.
- Você não tem medo de morrer?
- Na primeira vez eu pensei que fosse.

- Ninguém sabe disso?
- Nunca contei, você é a primeira pessoa. Nunca mostrei a ninguém.
- Mas se alguma coisa acontecer comigo?
- Não se preocupe, está segura comigo. Estamos quase lá.
- Estou com medo, está anoitecendo.

- Chegamos. Me dê sua mão, e segure firme.
- O que eu tenho que fazer?
- Nada, apenas tente relaxar.
- Estou tensa, alguém pode ver.
- Vou contar até três e você pula comigo, certo?
- Tudo bem.
- Um, dois, três... é hora de voaaar...

[Rafael Xereta]

Sem asas

Me olho no espelho
Não vejo ninguém
O céu está vermelho
Eu fui para o além

Cansei de esperar
Alguém me entender
Vou ter que achar
Alguém para proteger

Anjo agora sou
Apenas invisível
Minha vez ele lançou
Preciso ser compreensível

Aguardar você chegar
Para quando subir
Meu lugar tomar
E eu sumir

[Rafael Xereta]